terça-feira, 14 de março de 2017

Análise: O gato preto

O texto que você lerá é um trecho do conto “O gato preto”, de Edgar Allan Poe, um escritor admirado por muitas pessoas e que é considerado um mestre nos contos de mistério e terror. Sua obra, escrita em inglês, já foi traduzida para inúmeros idiomas e continua fascinando pessoas de diversas idades. Os textos de Poe foram adaptados para o cinema e para o teatro e influenciaram grandes escritores.

O gato preto 


Não espero que acreditem na história que vou contar. Eu seria louco se esperasse por isso... E não estou louco e muito menos sonhando. Mas vou morrer amanhã e preciso fazer uma confissão para aliviar a minha alma. Meu objetivo é mostrar ao mundo uma série de acontecimentos domésticos cujas consequências me deixaram apavorado e destruído. Para mim, esses acontecimentos produziram horror. Outros podem considerá-los menos terríveis.
Desde pequeno me sobressaí pela doçura e humanidade de meu caráter. Eu tinha tanta bondade no coração que meus amigos caçoavam de mim. Eu gostava muito de bichos e meus pais então permitiram que eu tivesse vários animais de estimação. Ficava a maior parte do tempo ao lado deles, fazendo carinho e lhes dando comida. Com o passar dos anos, essa minha particularidade se acentuou, trazendo-me ainda mais prazer. Aos que já amaram um cachorro inteligente e fiel nem é preciso falar sobre satisfação, gratificação e recompensa. O animal tem um amor natural pelo homem, amor que vai direto ao coração de quem já teve muitas ocasiões de pôr à prova a amizade mesquinha e a frágil lealdade do Homem.
Eu casei ainda jovem e fiquei contente de encontrar em minha esposa um caráter parecido com o meu. Observando a minha afeição pelos animais domésticos, ela sempre procurava os de natureza mais agradável. Assim, tínhamos pássaros, peixinhos dourados, um cachorro muito bonito, coelhos, um macaquinho e um gato.
O gato era um lindo e enorme animal, todo preto, de incrível inteligência. Mesmo não sendo supersticiosa, minha esposa costumava comentar a antiga crença de que “gatos pretos são bruxas disfarçadas”. Não que isso fosse realmente o que ela acreditasse, mas é que me lembrei disso agora.
Ele se chamava Plutão e era meu animal de estimação preferido. Eu era a única pessoa que o alimentava. Plutão me seguia por todos os lugares da casa e, quando eu saía, ficava difícil impedi-lo de me acompanhar.
Nossa amizade durou muitos anos. Durante esse período, meu caráter e meu temperamento mudaram muito... E para pior. Fui ficando mais mal-humorado e irritado a cada dia, sem me importar com os sentimentos dos outros. Passei a ofender minha esposa e isso me causava um enorme sofrimento. Depois, parti para a violência não só contra ela, mas também contra os animais de estimação, os quais abandonei. Eu ainda sentia carinho por Plutão, o suficiente para não maltratá-lo. Mas o mesmo não acontecia em relação aos coelhos, ao macaquinho, e até ao cachorro, quando por acaso ou por afeto passavam pela minha frente. O mal – também conhecido por “álcool” – foi crescendo e até Plutão, mais velho e mal-humorado, começou a sentir o efeito do meu temperamento.
Uma noite, ao chegar em casa completamente bêbado, achei que o bichano evitava minha presença. Ao agarrar o gato, ele ficou assustado e mordeu levemente a minha mão. Na mesma hora fiquei possuído. Eu não era a mesma pessoa. Minha alma parecia ter saído de meu corpo, que tremia cada fibra movida a gim. Tirei então um canivete do bolso e, segurando o gato preso pela garganta, arranquei um de seus olhos! Sinto o rosto queimar de vergonha por ter praticado essa atrocidade. [...]

Edgar Allan Poe. In: Contos de terror e mistério. Adaptação de Telma Guimarães.
São Paulo: Editora do Brasil, 2010. p. 31-32.

1.   O primeiro parágrafo do texto apresenta vários indícios de que a história a ser narrada é extraordinária.
a)  Que estratégia é empregada no primeiro período do texto para surpreender o leitor?
b)  Transcreva a passagem em que o narrador mostra que os fatos a serem narrados são reais e não fruto de alucinações.
c)   A revelação de que a morte se aproxima pode surpreender o leitor. Por quê?
d)   Quais seriam as possíveis causas para a morte prevista?
e)   No parágrafo, o narrador está tomado  por que sentimento? Comprove sua resposta com uma passagem do texto.

2.   No segundo parágrafo, o narrador relata como era sua vida antes dos acontecimentos terríveis.  A insistência em falar sobre seu caráter doce e humano e a relação amorosa que mantinha com animais desperta que suspeitas no leitor?

3.   O texto relata a mudança de comportamento do narrador.
a) Que transformação marca a trajetória do narrador?
b) Que relação estabelecida pelo narrador é associada a essa transformação?
c) Qual é o verdadeiro motivo para a mudança de comportamento do narrador?

4.   O sétimo parágrafo do texto narra uma atrocidade cometida pelo narrador contra o gato Plutão.
a) Identifique o marcador temporal usado introduzir a narração.
b) Que maldade foi cometida?
c) O que despertou a ira do narrador?

5.   O texto de Poe usa vários elementos para criar uma atmosfera de horror e suspense. Que tal traduzir essas sensações para uma história em quadrinhos?
Lembre-se de harmonizar a parte verbal e a parte visual para captar os detalhes mais importantes da narrativa. Numa HQ:

ü  os desenhos constituem o plano de expressão visual e devem representar os elementos concretos da cena e da ação;
ü  o texto verbal aparece em balões de fala ou legendas de narração;
ü  os diálogos devem ser curtos.
ü  Seguem algumas dicas para fazer uma boa adaptação.
ü  Ler e reler o texto com muita atenção para conhecer bem todos os detalhes;
ü  Informar-se sobre o contexto da obra;
ü  Selecionar as passagens mais importantes para representar;
ü  Organizar os quadrinhos em sequência, observando a quantidade de quadrinhos e a ordem em que devem aparecer;
ü  Fazer o rascunho dos desenhos e incluir as legendas e os balões de fala;

ü  Colorir os desenhos de forma bem criativa.

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