Mais
informação, menos preconceito
ONG
atende portadores
há duas
décadas
Fabiano Ormaneze
ESPECIAL PARA A AGÊNCIA ANHANGUERA
fabiano.ormaneze@rac.com.br
previstos para a educação básica para
criar um projeto interdisciplinar
que, além de conteúdo,
ajuda a desenvolver a consciência
do voluntariado e da
solidariedade entre os alunos.
Por iniciativa do professor Lucas
Bortolotto Brandão, os estudantes
do 8º ano estão envolvidos
num projeto que
tem como tema a prevenção
da Aids. Com isso, organizaram
uma campanha para ajudar
uma entidade que atende
portadores da doença, a Esperança
e Vida, além de integrar
a família nas atividades.
Brandão é professor de
ciências. Entre os conteúdos
previstos para o 8º ano estão
as doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs). Embora a temática
ocupe apenas cerca
de um bimestre das aulas, o
projeto desenvolvido por ele,
de forma paralela aos conteúdos
previstos para o resto do
ano, terá atividades até meados
do segundo semestre.
“Os alunos dessa turma têm,
em geral, 13 e 14 anos. Estão
numa fase muito importante,
com muitas dúvidas sobre sexualidade
e DSTs. É o momento
certo de estudar o tema e
também de ajudá-los a derrubar
preconceitos”, explica o
professor.
Num primeiro momento,
Brandão solicitou aos estudantes
que escrevessem um
texto sobre o que sabiam sobre
Aids. “Percebi que havia
muitos equívocos e opiniões
antigas que ainda permanecem
no imaginário dos alunos.
Muitos, por exemplo, ainda
acreditavam que era possível
infectar-se com a Aids por
meio do compartilhamento
de objetos como copos ou talheres”,
lembra o professor.
Por causa disso, o projeto foi
intitulado “Resgatar o passado
e descobrir o presente”.
Depois da correção dos textos,
a turma estudou como
surgiram os primeiros casos
da doença, como a imprensa
abordou o assunto e como
evoluíram os estudos em busca
de melhoria da condição
de vida dos portadores e também
da cura.
Nessa contextualização,
Brandão explicou a razão dos
estigmas existentes com os
portadores da doença, principalmente,
em razão da quantidade
de mortes ocorridas até
o início da década de 90 e
também a ligação existente,
no início, como a homossexualidade.
Nessa etapa do projeto,
entrou a participação da
professora de português, Maria
Regina Alves. A proposta
foi montar com os alunos um
jornal com notícias e artigos
sobre Aids e prevenção. O objetivo
é que esse material possa
servir de divulgação para
alunos das outras turmas.
“Trabalhamos com os gêneros
jornalísticos e estamos desenvolvendo
o nosso jornal.
Como o assunto é de interesse,
é mais fácil aplicar os conteúdos”,
diz Maria Regina. A
escola também recebeu a visita
de um jornalista para falar
sobre as etapas da produção
de um periódico.
Família
Na semana passada, o projeto
deu mais um passo importante.
A direção do colégio convidou
pais e alunos para uma
palestra, no período noturno,
com o sociólogo Roberto Geraldo
da Silva, o Robertinho,
fundador e presidente da Associação
Esperança e Vida, organização
não governamental
(ONG) que presta atendimento
a cerca de 400 portadores
da doença. Robertinho falou
às famílias, que lotaram a quadra
da escola, sobre a importância
de manterem conversas
periódicas sobre sexualidade
com os filhos.
Depois de conhecerem o
fundador da ONG, os alunos
iniciaram uma campanha de
arrecadação de produtos de
higiene e alimentos. “Com isso,
estamos trabalhando também
o espírito de solidariedade”,
explica Brandão. A arrecadação
segue até meados
do próximo semestre, quando
os alunos farão uma visita
à ONG e entregarão parte
das arrecadações. Pela escola,
os 25 estudantes envolvidos
no projeto também espalharam
cartazes convidando
os colegas a fazerem suas
doações e a se conscientizarem
sobre a importância da
prevenção e da diminuição
do preconceito.
“O projeto ainda está em
desenvolvimento, mas já começamos
a perceber uma mudança
muito grande na opinião
dos alunos. Como eles
não vivenciaram o que foi a Aids
há 20 ou 30 anos, tinham
posicionamentos muito equivocados
e preconceituosos.
Ao mesmo tempo em que alguns
acreditavam que se pegava
Aids em qualquer contato
pessoal com uma pessoa que
tinha a doença, outros não tinham
a noção da gravidade
porque nunca viram um doente
ou não conheciam a história”,
explica o professor, lembrando
aos alunos que, no
Brasil, a Aids ainda faz cerca
de 15 mil vítimas fatais por
ano.
Além disso, Brandão mostra
que, se hoje já existem tratamentos
que prolongam a vida
dos portadores, no começo
da epidemia, receber o
diagnóstico era uma sentença
de morte muito próxima. Desde
1980, a Aids já matou cerca
de 220 mil pessoas no Brasil,
que ainda registra aproximadamente
30 mil casos novos
por ano, a maioria entre adolescentes
e pessoas com mais
de 50 anos.
Atualmente, no Brasil, de
acordo com o Ministério da
Saúde, 530 mil pessoas convivem
com o vírus. No entanto,
na palestra de Robertinho, os
alunos puderam perceber que
esse número nunca poderá
ser totalmente confiável, por
causa do grande número de
pessoas que podem estar infectadas
sem saber.Há estimativas
de que esse total chegue
a 130 mil brasileiros, o que
equivale a dizer que, de cada
quatro infectados, um deles
desconhece a situação.
“Isso ajudou os alunos a
perceber a necessidade da prevenção
e de uma vida sexual
segura, uma vez que pessoas
podem ter o vírus sem ter sintomas
ou sem ter nenhuma
manifestação. Eles puderam
perceber que estar contaminado
não significa ter cara de
doente”, afirma o professor.
A ONG Esperança e
Vida completou 23
anos em 2013. A
história da entidade, uma
das mais respeitadas na
área, começou com um
convite feito ao fundador e
presidente, Roberto
Geraldo da Silva, o
Robertinho, para que fosse
visitarumcasal com Aids.
A casa era numa favela e o
sociólogo encontrouum
rapaz nos últimos
momentos de vida,
pesando cerca de 30 quilos.
Ligado ao movimento da
Renovação Carismática
Católica (RCC), Robertinho
iniciou o trabalho da
entidade, que hoje também
atua na recuperação de
viciados em drogas. A ONG
mantém uma unidade de
internação para pessoas
em tratamento contra o
consumo de drogas e álcool
no bairro Reforma Agrária,
em Campinas.
No Campos Elíseos, fica a
casa de apoio às pessoas
com HIV e Aids. Os
atendidos pela entidade
recebem
acompanhamento médico
—com a possibilidade de
internação —, alimentação,
atendimento psicológico e
espiritual. A instituição vive
de doações e do repasse
público, além do trabalho
de voluntários. Também
são realizados eventos e
bazares para arrecadar
fundos.
A entidade já esteve
envolvida em algumas
polêmicas.Emrazão do
seu caráter religioso, ligado
à Igreja Católica, é
contrária ao uso da
camisinha, divulgando a
abstinência sexual e a
monogamia como formas
de evitar a transmissão da
doença. Por essa razão, o
Esperança e Vida não
distribui preservativos e
seringas, como ocorre com
outras entidades. Por causa
disso, já enfrentou críticas
de órgãos e programas de
saúde. A ONG se defende
dizendo que, como
entidade católica, essas
práticas não fazem parte de
sua missão, mas que segue
rigorosamente todos os
procedimentos do
Ministério da Saúde na
assistência aos portadores
da doença. O Esperança e
Vida já recebeu vários
prêmios de
reconhecimento nacional
pelo trabalho prestado.
(FO/AAN)
Reportagem publicada na Correio Popular em 28 de maio de 2013
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