quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O barbazul - Rubem Alves - intertextualidade - 8º ano

O Barbazul




Vivia num país, não me recordo se próximo ou distante, um homem que todos conheciam pelo apelido Barbazul. Era um homem de rara beleza. Do seu rosto o que mais impressionava eram os olhos, de um azul profundo, dos quais saía uma luz azul que envolvia sua barba numa aura azulada, razão do seu apelido.

Barbazul era um homem rico. Vivia num castelo. Numa das extremidades do seu castelo havia uma torre de sete patamares, trancados a sete chaves. Era uma torre misteriosa, interditada ao público, e sobre o que havia nela circulavam as estórias mais escabrosas.

Barbazul era um homem solitário. Nunca se casara. Tão bonito, tão rico: por que nunca se casara? – era a pergunta que todos faziam.

Muitas eram as mulheres, lindas mulheres, que por ele se apaixonavam. E Barbazul não se esquivava. Aceitava as sugestões contidas nos sorrisos... A princípio era um simples namorico, os dois passeando pelos bosques... Mas sempre chegava o momento quando a jovem lhe dizia:

“Gostaria de me casar com você...“

“Casamento é coisa muito séria“, dizia Barbazul. “Só devem se casar pessoas que se conhecem profundamente. E só existe uma forma de as pessoas se conhecerem: é preciso que vivam juntas. Você viveria comigo, no meu castelo, mesmo sem nos casarmos? Eu no meu quarto, você no seu... Até nos conhecermos?”

E assim acontecia. A jovem ia viver com Barbazul no seu castelo, cada um no seu quarto. Comiam juntos, passeavam, conversavam... Barbazul era um homem extremamente fino e delicado. Mas sempre acontecia a mesma coisa: depois de um mês assim vivendo Barbazul se dirigia à jovem e lhe dizia: “Vou fazer uma viagem de sete dias. Nesses dias você tem permissão para visitar a ‘Torre dos Sete Patamares‘. Aqui estão as sete chaves... Durante a sua visita você deverá segurar a chave do patamar que você estará visitando na sua mão esquerda, fechada com bastante força. Isso é muito importante. Porque as chaves têm propriedades mágicas...“

Com essas palavras ele partia e a jovem ficava só, com as sete chaves na mão, e a Torre dos Sete Patamares a ser visitada...

Transcorridos sete dias Barbazul regressava e após o abraço do reencontro perguntava:
“Visitou a Torre dos Sete Patamares?“
“Sim. Visitei todos os patamares...“, a jovem respondia alegremente.
“Você gostou?“
“Eu os achei maravilhosos!“
Barbazul insistia:
“Todos eles?“
“Sim, todos eles...“
“Então“, concluía com um sorriso, “é hora de você me devolver as sete chaves, aquelas que você apertou na mão esquerda, o lado do coração. Como eu lhe disse, elas são mágicas... Elas vão me contar o que você sentiu...“

Assentava-se então numa poltrona, fechava os olhos, e segurava as chaves na sua mão esquerda, uma de cada vez. A magia das chaves estava nisso: elas o faziam sentir, ao segurá-las, o mesmo que a jovem havia sentido, na sua visita aos sete patamares da torre.

Só de olhar para o seu rosto era possível perceber os sentimentos guardados na chave que segurava. Eram sentimentos os mais variados, todos os que existem no leque que vai da alegria até a tristeza. As jovens sempre se emocionavam ao visitar os patamares da torre... Com uma exceção. Ao segurar a sétima chave o sorriso de Barbazul desaparecia e, no seu lugar, aparecia enfado e tédio. Era isso que a jovem havia sentido no sétimo patamar: enfado e tédio.

“Não“, dizia ele à jovem. “Não poderemos nos casar. Comigo você será para sempre infeliz. O que há de mais fundo em mim, para você é tédio e enfado.“

E sem outras explicações levava a jovem à casa de seus pais, não sem antes enchê-la com os presentes que trouxera da viagem.

E era sempre assim.
Foi então que aconteceu...
Era o entardecer, o sol se pondo no horizonte. O mar estava maravilhosamente azul. Barbazul caminhava na praia, como sempre fazia, pés descalços... Viu, ao longe, uma jovem que caminhava sozinha, molhando os seus pés na espuma do mar. Era uma cena linda, digna de uma tela de Monet: uma jovem sozinha, vestes brancas na areia branca, contra o azul do céu e o azul do mar... Ela caminhava na sua direção, distraída. Mas parecia não vê-lo, tão absorta se encontrava. Ela se assustou quando o viu...
“Eu a assustei?“, ele perguntou.
“Eu estava distraída“, ela disse, se desculpando.
“Qual é o seu nome?“
“O meu nome? Stella Maris...“
“Chamam-me de Barbazul, por causa da cor da minha barba...“
Eles riram.
Ela não era bonita. Mas a cena era bonita, bonitos eram seus olhos, bonita era a sua voz...

Barbazul ouviu músicas no seu coração. E foi assim que caminharam juntos de pés descalços ao sol poente, caminhadas que vieram a se repetir a cada novo dia.

Até que, numa dessas caminhadas, Barbazul falou o que nunca falara.
“Você não quer morar comigo no meu castelo?“
“Você está pedindo que eu me case com você?“, ela perguntou.
“Não. Estou pedindo que você venha morar comigo. Depois de morar comigo, quem sabe, descobriremos que as nossas solidões poderão caminhar juntas pela vida...“

E assim, ela foi morar no castelo do Barbazul. E aconteceu exatamente como acontecia com todas as outras: passado um tempo Barbazul anunciou uma viagem de sete dias e lhe deu as sete chaves com a mesma recomendação. E partiu...

No primeiro dia Stella Maris tomou a primeira chave, abriu a porta do primeiro patamar e segurou firmemente a chave na sua mão. Era um enorme salão de festas cheio de gente. A orquestra tocava valsas alegres e as pessoas dançavam e riam. Parecia que todos estavam leves e felizes. Stella Maris dançou também e se sentiu leve e feliz.

No segundo dia Stella Maris tomou a segunda chave, abriu a porta do segundo patamar e segurou firmemente a chave na sua mão. Era um salão de banquetes onde se serviam as mais deliciosas comidas e se bebiam os vinhos mais caros. Muitos eram os comensais, mas não tantos quantos havia no salão de festas. Stella Maris juntou-se a eles, assentou-se, comeu, bebeu e se alegrou.

No terceiro dia Stella Maris tomou a terceira chave, abriu a porta do terceiro patamar e segurou a chave firmemente na sua mão. Era um parque cheio de crianças que brincavam dos mais variados brinquedos: balanços, gangorras, pipas, piões, cabo-de-guerra, pau de sebo, perna de pau, pula-corda, amarelinha, bolinhas de gude, bonecas, casinha, cabra-cega, escorregador, sela... Todas riam. Todas estavam felizes. Stella Maris se sentiu como criança e se juntou com elas, a brincar.

No quarto dia Stella Maris tomou a quarta chave, abriu a porta do quarto patamar e segurou a chave firmemente em sua mão. Era uma biblioteca com prateleiras cheias de livros. Havia livros de todos os tipos: livros de ciência, de história, de literatura, de poesia, de filosofia, de humor, de mistério, de crime, de ficção científica, de arte, de culinária, de sexo, de religião... Os rostos daqueles que, assentados às mesas, liam livros em silêncio, revelavam emoções que os livros continham: concentração, excitação, curiosidade, alegria, tristeza, riso... Stella Maris escolheu um livro de arte, pinturas de Monet. Vendo as ninféias de Monet ela se sentiu leve e diáfana e desejou ver uma ninféia num lago...

No quinto dia Stella Maris tomou a quinta chave, abriu a porta do quinto patamar e segurou a chave firmemente na sua mão. Era uma catedral gótica. A luz do sol se filtrava através dos vitrais coloridos e no silêncio do espaço vazio se ouvia o Requiem, de Fauré. E não eram muitas as pessoas que lá estavam. Havia rostos de súplica, rostos de sofrimento, rostos de paz. Stella Maris foi envolvida pelo silêncio, pelas cores dos vitrais, pela música... E a sua alma orou, chorou, agradeceu e sentiu paz.

No sexto dia Stella Maris tomou a sexta chave, abriu a porta do sexto patamar e segurou a chave firmemente na sua mão. Era um jardim japonês. Ouvia-se o barulho da água que caía na fonte onde nadavam carpas coloridas em meio às ninféias. As cerejeiras estavam floridas. Um velho hai-kai repentinamente floresceu: “Cerejeiras ao anoitecer – Hoje também já é outrora...“ (Issa). Poucas, muito poucas eram as pessoas que andavam pelo jardim. Stella Maris se assentou sob uma cerejeira florida e o seu pensamento parou. Não era necessário pensar. A beleza era tanta que ocupava todo o lugar onde moram os pensamentos. Experimentou o paraíso...

No sétimo dia Stella Maris tomou a sétima chave, abriu a porta do sétimo patamar e segurou a chave firmemente na sua mão. Era uma ampla sala vazia, na penumbra. Ninguém, somente ela. O silêncio era absoluto. A solidão era absoluta. Dois móveis apenas, duas cadeiras. A que se encontrava no centro da sala era iluminada pela luz das velas de um candelabro que pendia do teto. Stella Maris assentou-se na cadeira que estava num canto, nas sombras.

Foi então que um homem entrou por uma porta nos fundos. Vinha abraçado com um violoncelo. Sem dizer uma única palavra ele se assentou, arrumou o violoncelo entre as pernas, tomou o arco, concentrou-se e pôs-se a tocar. A melodia, em meio ao silêncio absoluto, sem nenhum ruído ou fala que a profanasse, era de tal pureza e pungência que lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Stella Maris.

Sentiu que o seu corpo estava possuído pela beleza. Era como se ele, o seu corpo, fosse o instrumento de onde saía a música. Sim, ela já a ouvira: a Suíte n. 1, em sol maior para violoncelo, de Bach. Terminada a execução, o artista se levantou e se retirou sem nada dizer. Stella Maris permaneceu assentada, em silêncio; não queria que aquele momento terminasse. Queria que ele se prolongasse, para sempre...

* * *

“Então“, disse Barbazul sorridente, “visitou a Torre dos Sete Patamares?“
“Visitei“, respondeu Stella Maris, entregando-lhe as chaves. Barbazul pediu para ficar sozinho e reclinando com os olhos fechados foi apertando as chaves, sucessivamente, com a mão esquerda, a mão do coração. No seu rosto se estampavam as emoções que Stella Maris havia tido em cada um dos patamares: leveza, alegria, riso, beleza, tristeza – até chegar ao último patamar, aquele que, ao segurar a sua chave, sentira o tédio e o enfado que as outras mulheres haviam sentido. O que é que Stella Maris teria sentido?

E, de repente, sentiu lágrimas rolando pelo seu rosto, as mesmas lágrimas que haviam rolado pelo rosto de Stella Maris. Era como se o seu corpo estivesse possuído pela beleza e fosse o instrumento do qual a música saía...

Barbazul sorriu. Permaneceu assentado, em silêncio; não queria que aquele momento terminasse. Queria que ele se prolongasse, para sempre...

* * *

“Stella Maris, você quer se casar comigo“, ele perguntou.

“Casar? Mas eu pensei que...“

“Sim, casar. Você compreendeu o que é a Torre dos Sete Patamares? É a minha alma. Cada patamar é um pedaço de mim. Lá se encontram os prazeres e alegrias humanos. Homens, mulheres e crianças se reúnem para compartilhar esses prazeres e alegrias. Mas, ao final da torre, há um lugar de solidão absoluta onde só entra uma pessoa de cada vez, eu permitindo. Aquele lugar é o fundo do meu coração. Quem não amar aquele lugar jamais me amará. Poderá até ser um companheiro de danças, de jantares, de discussões literárias, de brinquedos... Muitos podem ser bons companheiros. Mas, para me amar, é preciso amar a minha solidão. E aquela música é a forma sonora da minha solidão. Você a achou bela. Você permitiu que ela possuísse o seu corpo. E, por isso, eu a amo... Nossas solidões são amigas... Você quer se casar comigo?“



Notas: 
- Estórias são parábolas. Não podem ser tomadas literalmente. Eu usei uma figura masculina como figura central – o Barbazul – porque estou reescrevendo e transformando a velhíssima estória do Barba Azul, cheia de violências e assassinatos. Mas seria possível escrever uma estória com a mesma trama tendo uma mulher como a figura central.

- “O primeiro homem é o primeiro visionário de espíritos. A ele tudo aparece como espírito. O que são as crianças, senão primeiros homens? O fresco olhar da criança é mais transcendente que o pressentimento do mais resolutos dos visionários.“ (Novalis, Pólen, 163).

- “Eu acreditava em sacis. Até que um dia um deles mentiu para mim...“

“Todo mineiro é caboclo. Caso contrário é louco.“(Correio Popular, 19 e 26/05/2002)


Obs: Rubem Alves mora atualmente em Campinas e escreve textos para o Jornal Correio Popular. Para saber mais sobre o autor, acesse: http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_4243.html

O barba azul - Charles Perrault - 8º ano


O Barba Azul
Charles Perrault

Era uma vez um homem que tinha bonitas casas na cidade e no campo, baixela de ouro e prata, móveis em talha e carruagens douradas; mas, infelizmente, esse homem tinha a barba azul: isso tornava-o tão feio e terrível que não havia mulher ou menina que não fugisse dele.
Uma das vizinhas, senhora de categoria, tinha duas filhas de grande beleza. Ele pediu-lhe uma das filhas em casamento e deixou a dama escolher a que lhe iria dar. Nenhuma delas o queria e empurravam-no de uma para a outra, sem se resolverem a aceitar um homem de barba azul. O que mais as aborrecia era ele ter já casado com várias mulheres e não se saber o que era feito delas.
O Barba Azul, para travar relações, levou-as com a mãe e três ou quatro das melhores amigas e alguns rapazes da vizinhança para uma das suas casas de campo, onde ficaram oito dias. Eram só passeios, caçadas e pescarias, danças e festins e repastos: não dormiam e passavam a noite toda a gracejar uns com os outros. Enfim, tudo correu tão bem que a mais nova começou a achar que o dono da casa já não tinha a barba tão azul e que era um cavalheiro. Logo que regressaram à cidade, o casamento realizou-se.
Ao fim de um mês, o Barba Azul disse à mulher que precisava de fazer uma viagem à província de, pelo menos, seis semanas, para um negócio importante. Desejava que ela se divertisse muito durante a sua ausência, que convidasse as amigas, que as levasse para o campo, se quisesse, que gastasse à larga.
- Aqui estão – disse ele – as chaves das duas grandes arrecadações, aqui estão as da baixela de ouro e prata que não anda a uso, aqui estão as dos cofres onde está o meu ouro e a minha prata, as das caixas de pedrarias e a chave mestra de todos os quartos. Quanto a esta chavinha, é a chave do gabinete no fundo do corredor do andar de baixo. Abri tudo, ide aonde quiserdes, mas, quanto a esse gabinete, estais proibida de lá entrar e proíbo-o de tal forma que, se o abrirdes, podeis esperar tudo da minha ira.
Ela prometeu cumprir exactamente tudo o que lhe fora ordenado e ele, depois de a beijar, subiu para a carruagem e partiu. 20
As vizinhas e as amigas não esperaram que as fossem procurar para irem a casa da recém-casada, de tal forma estavam impacientes para ver as riquezas da casa, não ousando ir enquanto o marido lá estava, por causa da sua barba azul que lhes metia medo. Começaram logo a percorrer os quartos, os gabinetes, os guarda-roupas, todos mais bonitos e mais ricos uns do que os outros.
Subiram depois às arrecadações onde não se cansavam de admirar a quantidade e a beleza das tapeçarias, das camas, dos sofás, das mesinhas de pé-de-galo, das mesas e dos espelhos onde se viam da cabeça aos pés e cujas molduras, umas de vidro e outras de prata e de prata dourada, eram as mais belas e as mais magníficas que jamais se viram.
Não paravam de exagerar e de invejar a felicidade da amiga que, no entanto, não se divertia nada a ver todas essas riquezas, por causa da impaciência em que estava de ir abrir o gabinete do andar de baixo. Estava tão atormentada pela curiosidade que, sem pensar que parecia mal deixar as visitas, desceu a escadinha com tanta precipitação que esteve prestes a partir a cabeça por duas ou três vezes. Ao chegar à porta do gabinete, parou algum tempo, pensando na proibição que o marido lhe tinha imposto e considerando que lhe podia acontecer um desastre por ter sido desobediente; mas a tentação era tão forte que não conseguiu vencê-la. Pegou, pois, na chavinha e abriu, tremendo, a porta do gabinete.
Primeiro não viu nada, porque as janelas estavam fechadas. Alguns momentos depois, começou a ver que o chão estava coberto de sangue coalhado e que nesse sangue se reflectiam os corpos de várias mulheres mortas e amarradas ao longo das paredes (eram mulheres que o Barba Azul tinha desposado e degolado uma após a outra).
Pensou morrer de medo e a chave do gabinete, que tinha acabado de tirar da fechadura, caiu-lhe da mão.
Depois de voltar a si do susto, apanhou a chave, tornou a fechar a porta e subiu ao quarto para se refazer um pouco; mas não podia acalmar-se de tão impressionada que estava.
Ao reparar que a chave do gabinete estava manchada de sangue, limpou-a duas ou três vezes, mas o sangue não saía; bem a lavou e a esfregou com areia e com grés. O sangue continuou lá, porque a chave era enfeitiçada e era impossível limpá-la completamente. Quando se limpava o sangue de um lado, ele aparecia do outro. O Barba Azul voltou da viagem nessa mesma noite. Disse que tinha recebido umas cartas no caminho informando-o de que o negócio que o levara a partir tinha sido concluído em seu proveito.
A mulher tudo fez para demonstrar que estava encantada com o seu rápido regresso.
No dia seguinte, ele pediu-lhe as chaves e ela deu-lhas, com as mãos a tremer tanto que ele adivinhou logo tudo o que se tinha passado.
- Porque é que a chave do gabinete não está com as outras?
- Devo tê-la deixado lá em cima, na mesa.
- Não demoreis a devolver-ma – disse o Barba Azul.
Depois de várias delongas, foi preciso devolver a chave.
O Barba Azul, depois de a examinar, disse à mulher:
- Porque é que há sangue nesta chave?
- Não sei de nada – disse a pobre mulher mais pálida do que a morte.
- Não sabeis de nada – tornou o Barba Azul – mas eu sei muito bem. Quisestes entrar no gabinete. Pois bem, senhora, ides entrar no gabinete e tomar o vosso lugar ao pé das damas que lá vistes!
Ela lançou-se aos pés do marido, chorando e pedindo perdão, com todos os sinais de um verdadeiro arrependimento por não ter sido obediente.
Teria enternecido um rochedo tão bela e aflita estava, mas o Barba Azul tinha o coração mais duro que um rochedo.
- É preciso morrer, senhora – disse ele – e depressa.
- Já que é preciso morrer – respondeu ela, olhando-o com os olhos banhados em lágrimas – dai-me algum tempo para rezar.
- Dou-vos um quarto de hora – tornou o Barba Azul – mas nem mais um momento.
Quando ficou só, ela chamou a irmã e disse-lhe:
- Minha irmã Ana (porque elas tratavam-se assim), sobe, peço-te, ao alto da torre para ver se os meus irmãos não vêm; eles prometeram que viriam ver-me hoje e, se os vires, faz-lhes sinal para se apressarem.
Ana subiu ao alto da torre e a pobre, atormentada, gritava-lhe de vez em quando:
- Ana, minha irmã, não vês vir ninguém? E a irmã Ana respondia:
- Não vejo nada além do sol que se empoeira e da erva que verdeja.
Entretanto, o Barba Azul, segurando um grande facalhão, gritava com todas as forças à mulher:
- Descei depressa ou vou aí acima.
- Um pouco mais, por favor – respondia a mulher, e logo gritava baixinho:
- Ana, minha irmã, não vês vir ninguém?
E a irmã respondia:
- Não vejo nada além do sol que se empoeira e da erva que verdeja.
– Descei depressa – gritava o Barba Azul ou vou aí acima.
– Já vou – respondia a mulher e, depois, gritava:
- Ana, minha irmã Ana, não vês vir ninguém?
- Vejo – respondeu a irmã Ana – uma poeirada grande que vem deste lado.
- São os meus irmãos?
– Infelizmente não, minha irmã, é um rebanho de carneiros.
– Não ides descer? – gritava o Barba Azul.
– Mais um momento – respondia a mulher e, depois, gritava:
– Ana, minha irmã, não vês vir ninguém?
– Vejo – respondeu ela – dois cavaleiros que vêm deste lado, mas ainda estão longe.
E um momento depois exclamou:
- Deus seja louvado! São os meus irmãos, fiz-lhes sinal, o mais que pude, para se apressarem.
O Barba Azul pôs-se a gritar tão alto que toda a casa estremeceu. A pobre mulher desceu e atirou-se a seus pés, lavada em lágrimas e desgrenhada.
– Não vale de nada – disse o Barba Azul – é preciso morrer.
Depois, segurando-a com uma mão pelos cabelos e levantando com a outra o facalhão, ia decapitá-la.
A pobre mulher, virando para ele um olhar moribundo, pediu-lhe apenas um momento para se recolher.
- Não, não – disse ele – recomendai-vos bem a Deus! – e levantando o braço…
Nesse momento bateram à porta com tanta força que o Barba Azul parou de repente. Abriram e logo entraram dois cavaleiros que, com a espada na mão, correram para o Barba Azul. Ele reconheceu os irmãos da mulher, um deles Dragão e outro Mosqueteiro, de forma que fugiu para se salvar. Porém os dois irmãos seguiram-no tão de perto que o apanharam antes de ele chegar ao patamar da escada. Espetaram-lhe a espada no corpo e deixaram-no morto. A pobre mulher estava quase tão morta como o marido e nem forças tinha para se levantar e beijar os irmãos.
Acontece que o Barba Azul não tinha herdeiros e, assim, a mulher ficou senhora de todos os bens. Empregou uma grande parte para casar a sua irmã Ana com um jovem fidalgo, que há muito tempo a amava. Depois, outra parte, para comprar os cargos de capitão aos irmãos. E o resto para casar ela própria com um homem honesto, que a fez esquecer o tempo infeliz que
passara com o Barba Azul.

MORAL DA HISTÓRIA
A curiosidade, embora atraente,
Custa muito caro, frequentemente.
Todos os dias os exemplos são tantos!
É um prazer fácil de alcançar.
Quando se tem perde os encantos
E muito caro acaba por ficar.

OUTRA MORAL DA HISTÓRIA
Por pouco sensato que se possa ser
E de feitiçaria se possa saber
Através do conto é fácil de ver
Que esta história se passou noutros tempos.
Já não há maridos tão terríveis,
Nem que peçam às mulheres coisas impossíveis;
Por mais que sejam descontentes e ciumentos
Ao pé da mulher só mostram amor
E, seja a sua barba duma ou outra cor,
É difícil julgar quem é o senhor.

Obs: Para saber mais sobre o autor deste conto, acesse: http://www.recantodasletras.com.br/biografias/3509883


Interpretação do texto: Detalhes - 6º ano


DETALHES
Luis Fernando Veríssimo

            O velho porteiro do palácio chega em casa, trêmulo. Como faz sempre que tem baile no palácio, sua mulher o espera com café da manhã reforçado. Mas desta vez ele nem olha para a xícara fumegante, o bolo, a manteiga, as geleias. Vai direto à aguardente. Atira-se na sua poltrona perto do fogão e toma um longo gole da bebida, pelo gargalo.
            - Helmuth, o que foi?
            - Espera, Helga. Deixe eu me controlar primeiro.
            Toma outro gole de aguardente.
            - Conta, homem! O que houve com você? Aconteceu alguma coisa no baile?
            - Co-começou tudo bem. As pessoas chegando, todo mundo de gala, todos com convite, tudo direitinho. Sempre tem, claro, o filhinho de papai sem convite que quer me levar na conversa, mas já estou acostumado. Comigo não tem conversa. De repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme. E toda de ouro. Puxada por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões! Elefantes! De dentro da carruagem salta uma dona. Sozinha. Uma beleza. Eu me preparo para barrar a entrada dela porque mulher desacompanhada não entra em baile do palácio. Mas essa dona é tão bonita, tão, sei lá, radiante, que eu não digo nada e deixo ela entrar.
            - Bom, Helmuth. Até aí...
            - Espera. O baile continua. Tudo normal. Às vezes rola um bêbado pela escadaria, mas nada de mais. E então bate a meia-noite. Há um rebuliço na porta do palácio. Olho para trás e vejo uma mulher maltrapilha que desce pela escadaria, correndo. Ela perde um sapato. E o príncipe atrás dela.
            - O príncipe?!
            - Ele mesmo. E gritando para eu segurar a esfarrapada. “Segura! Segura!” Me preparo para segurá-la quando ouço uma espécie de “vum” acompanhado de um clarão. Me viro e...
            - E o quê , meu Deus?
            O porteiro esvazia a garrafa com um último gole.
            - Você não vai acreditar.
            - Conta!
            - A tal carruagem. A de ouro. Tinha se transformado numa abóbora.
            - Numa o quê?!
            - Eu disse que você não ia acreditar.
            - Uma abóbora?
            - E os cavalos em ratos.
            - Helmuth... !!!
            - Não tem mais aguardente?
            - Acho que você já bebeu demais por hoje.
            - Juro que não bebi nada!
            - Esse trabalho no palácio está acabando com você, Helmuth. Pede para ser transferido para o almoxarifado. (Luís Fernando Veríssimo)
1. O texto é uma nova visão de que tradicional história infantil. De que conto se trata? Transcreva uma passagem do texto que justifique sua resposta. 

2. “O velho porteiro do palácio chega em casa, trêmulo.” Como sabemos não se tratar de um palácio no Brasil? 

3. “Como faz sempre que tem baile no palácio, sua mulher o espera com café da manhã reforçado.” Pelo trecho, com relação aos hábitos do porteiro, o que se pode entender? 

4. O que o porteiro revela com esta frase: “Comigo não tem conversa” 

5. De que forma a mulher interpreta a história do marido? 

6. Na frase: “Me preparo para segurá-la, (10° parágrafo) qual é a classificação gramatical e a quem se refere o termo em destaque? 

Obs. Para saber mais sobre o autor deste texto, acesse a página:
http://www.e-biografias.net/luis_fernando_verissimo/


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Leitura e interpretação de texto - 8º ano


                                  Secretária
                              (Luís Fernando Veríssimo)
            O teste definitivo para você saber se você está ou não integrado no mundo moderno é a secretária eletrônica. O que você faz quando liga para alguém e quem atende é uma máquina. Tem gente que nem pensa nisso. Falam com a secretária eletrônica com a maior naturalidade, qual é o problema? É apenas um gravador estranho com uma função a mais. Mas aí é que está. Não é uma máquina como qualquer outra. É uma máquina de atender telefone. O telefone (que eu não sei como funciona, ainda estou tentando entender o estilingue) pressupõe um contato com alguém e não com alguma coisa.
    A secretária eletrônica abre um buraco nesta expectativa estabelecida. É desconcertante. Atendem — e é alguém dizendo que não está lá!  Seguem instruções para esperar o bip e gravar a mensagem.
         É aí que começa o teste. Como falar com ninguém no telefone? Um telefonema é como aqueles livros que a gente gosta de ler, que só tem diálogos. É travessão você fala, travessão fala o outro. E de repente você está falando sozinho. Não é nem monólogo. É diálogo só de um.
               — Ahn, sim, bom, mmm... olha, eu telefono depois. Tchau.
             O “tchau” é para a máquina. Porque temos este absurdo medo de magoá-la. Medo de que a máquina nos telefone de volta e nos xingue, ou pelo menos nos bipe com reprovação. Sei de gente que muda a voz para falar com secretária eletrônica. Fica formal, cuida a construção da frase. Às vezes precisa resistir à tentação de ligar de novo para regravar a mensagem porque errou a colocação do pronome.
         Outros não resistem. Ao saber que estão sendo gravados, limpam a garganta, esperam o bip e anunciam:
                — De Augustin Lara...
              E gravam um bolero. Talvez seja a única atitude sensata.

1. “O teste definitivo para você saber...”; o vocábulo definitivo, nesse contexto, corresponde ao seguinte sinônimo:
a) inapelável         b) decisivo       c) determinado       d) derradeiro       e) aprovado

2. O item que mostra um desenvolvimento INADEQUADO do segmento sublinhado é:
a) “O teste definitivo para você saber  =  o teste definitivo para que você saiba.
b) “Ao saber que estão sendo gravados  =  quando sabem que estão sendo gravados.
c) “para regravar a mensagem”  =  para que regrave a mensagem.
d) “Seguem instruções para esperar o bip” = seguem instruções para que se espere o bip.
e) “como aqueles livros que a gente gosta de ler”  =  como aqueles livros que a gente gosta que se leiam.

3. “O teste definitivo para você saber se você está ou não integrado no mundo moderno é a secretária eletrônica”; a forma de reescrever-se esse segmento do texto que ALTERA o seu sentido original é:
a) Para você saber se está ou não integrado no mundo moderno, o teste definitivo é a secretária eletrônica.
b) A secretária eletrônica é o teste definitivo para você saber se está ou não integrado no mundo moderno.
c) É a secretária eletrônica o definitivo teste para você saber se está ou não integrado no mundo moderno.
d) Para você saber se está ou não integrado no mundo moderno, a secretária eletrônica é o teste definitivo.
e) O teste definitivo do mundo moderno para você saber se está ou não integrado nele é a secretária eletrônica.

4. O item em que o vocábulo PARA tem significado diferente de todos os demais é:
a) “O teste definitivo para você saber...”   
b) “O que você faz quando liga para alguém...”
c) “Seguem instruções para esperar o bip...” 
d) “Sei de gente que muda a voz para falar com a secretária...”
e) “...ligar de novo para regravar a mensagem.”

5. A frase do texto em que há claramente a personificação da secretária eletrônica por meio de uma ação humana que lhe é atribuída, é:
a) ‘Medo de que a máquina nos telefone de volta...”                
b) “O tchau’ é para a máquina.”
c) “Porque temos este absurdo medo de magoá-la.”                 
 d) “Não é uma máquina como qualquer outra.”
 e) Sei de gente que muda a voz para falar com secretária eletrônica.”

6, “O que você faz quando liga para alguém e quem atende é uma máquina”. Nesse segundo período do texto, os elementos que estão em oposição semântica são:
 a) você / quem      b) faz / liga       c) liga / atende      d) alguém / máquina     e) o / uma

7. A frase abaixo que representa uma linguagem coloquial é:
a) “Tem gente que nem pensa nisso.”               
b) “Falam com a secretária eletrônica com a maior naturalidade.”
c) “Talvez seja a única solução sensata.”         
d) “E gravam um bolero.”
e) “É apenas um gravador estranho com uma função a mais.”

8. “Tem gente que nem pensa nisso. Falam com a secretária eletrônica com a maior naturalidade, qual é o problema?” A pergunta final desse segmento:
a) é feita pelo próprio autor do texto.
b) é questão atribuída à secretária eletrônica.
c) é da autoria da “gente que nem pensa nisso”.
d) parte de quem não é atendido pela secretária com naturalidade.
e) questiona o problema de não haver quem atenda o telefone.

9. “A secretária eletrônica abre um buraco nesta expectativa estabelecida”; a “expectativa” referida no texto é a de que:
a) se entre em contato com alguém.                  b) se possa deixar um recado.
c) a secretária eletrônica esteja ligada.            d) se possa seguir as instruções da máquina.
                             e) não tenham ligado a secretária eletrônica.

10. O trecho entre parênteses no segundo parágrafo — que eu não sei como funciona, ainda estou tentando entender o estilingue — tem a função de:
a) mostrar a competência tecnológica do autor do texto.
b) fazer pouco das máquinas modernas.
c) demonstrar a inadequação do autor diante das coisas modernas.
d) transmitir um tom crítico ao texto.
e) situar o texto em tempos passados.

11. “— Ahn, sim, bom, mmm...”; essas palavras Indicam, por parte de quem é atendido pela secretária eletrônica:
a) aborrecimento         b) hesitação       c) espanto        d) desilusão       e) admiração

12. O item em que o sentido da oração sublinhada está ERRADAMENTE indicado, é:
a) “O que você faz  quando liga para alguém e quem atende é uma máquina” — tempo.
b) “...regravar a mensagem  porque errou a colocação do pronome” — causa.
ç) “Sei de gente que muda a voz  para falar com a secretária eletrônica” — finalidade.
d) “O teste definitivo para você saber  se está ou não integrado no mundo moderno  é a secretária eletrônica” — condição.
e) “Ao saber que estão sendo gravados “ —tempo.

13. Afirmação que cabe ao texto como um todo é que ele:
a) critica amargamente os novos meios tecnológicos.
b) elogia a tranqüilidade dos que não temem as máquinas.
c) ironiza a falta de educação da secretária eletrônica.
d) destaca a desumanização nas relações humanas.
e) indica uma solução para os problemas de comunicação,

14. Há tipos diferentes de atitudes diante do atendimento de uma secretária eletrônica. A frase cuja identificação dessa atitude NÃO está adequada é:
a) “Falam com a secretária eletrônica com a maior naturalidade” — tranqüilidade.
b) “Como falar com ninguém no telefone?” — confusão mental.
c) ‘E gravam um bolero” — lirismo.
d) “Sei de gente que muda a voz para falar com secretária eletrônica” — formalismo.
 e)”,,,ou pelo menos nos bipe com reprovação” — temor

15.0 item em que a oração sublinhada NÃO indica uma ação em seqüência cronológica em relação à oração anterior, é:
a) “0 que você faz quando liga para alguém  e quem atende é uma máquina.                   
b)”...esperam o bip e anunciam.”
c) “Seguem instruções para esperar o bip e gravar a mensagem.”
d) “Medo de que a máquina nos telefone de volta e nos xingue.”
e)”,.. pressupõe um contato com alguém e não com alguma coisa.”

16. Em todos os itens abaixo há uma junção de um substantivo com um adjetivo; o par em que o adjetivo NÃO representa uma opinião do autor do texto é:
   a) atitude sensata          b) teste definitivo         c) absurdo medo      
                         d) mundo moderno     e) gravador estranho

17. O item em que a segunda forma proposta para o segmento inicial ALTERA o sentido original é:
a) “Talvez seja a única atitude sensata” / A única atitude sensata talvez seja essa.
b) “Eu telefono depois”! Depois eu telefono.
c) “É aí que começa o teste”! Aí o teste começa.
d) “Como falar com ninguém no telefone?” / Como ninguém falar ao telefone?
e) “E gravam um bolero”! E um bolero é gravado.

9º ano - leitura e interpretação


Duzentas gramas
       Tenho um amigo que fica indignado quando peço na padaria “duzentas” gramas de presunto — já que a forma correta, insiste ele, é duzentos gramas. Sempre discutimos sobre os diferentes modos de falar. Ele argumenta que as regras de pronúncia e de ortografia, já que
existem, devem ser obedecidas, e que os mais cultos (como eu, um cara que traduz livros) devem insistir na forma correta, a fim de esclarecer e encaminhar gente menos iluminada.
         Eu sempre argumento que, quando ele diz que só existe uma forma correta de falar, está usurpando um termo de outro ramo, que está tentando aplicar a ética à gramática, como se falar corretamente implicasse algum grau de correção moral, como se dizer “duzentas” significasse incorrer numa falha de caráter, e dizer duzentos gramas fosse prova de virtude e integridade.
          Ele vem então com aquela de que se pode desculpar a moça da padaria quando fala “duzentas”, pois ela desconhece a norma culta, mas quanto a mim, que a domino, demonstro uma falha de caráter ao ignorá-la em benefício dos outros — só para evitar o constrangimento de falar diferente. “Quem sabe fazer o bem e não o faz comete pecado” — parece concluir.
      Eu reconheço, sim, que falo de forma diferente dependendo de quem seja meu interlocutor. Às vezes uso deliberadamente formas como “tentêmo” ou “vou ir”. Pelo mesmo motivo, todas as gírias e dialetos locais me interessam. Não que — por exemplo—a decisão de dizer “duzentas” gramas seja consciente, uma premeditação em favor da inclusão social. É que, algumas vezes, a coisa certa a se fazer — sobretudo na linguagem falada — é ignorar a norma, ou pervertê-la. Quando peço “duzentas gramas de presunto, por favor”, a moça da padaria invariavelmente repete, como que para extorquir minha profissão de fé à norma inculta:
__ DUZENTAS?
— Duzentas, confirmo eu, já meio arrependido, mas caindo, ainda assim, em tentação.
                                         (Adaptado de Pauto Brabo, site A bacia das almas)

1. A posição do autor do texto em relação aos diferentes níveis de linguagem é a de quem:
a) por desconhecer a norma culta, não pode mostrar constrangimento quando não fala  corretamente.
b) por dominar a norma culta, sente-se à vontade para deturpá-la, sem que haja qualquer razão  para isso.
c) mesmo dominando a norma culta, não hesita em transgredi-la, quando isso favorece a comunicação com os outros,
d) por desconhecer a norma culta, despreza a presunção das pessoas que insistem em corrigir  quem fala incorretamente.
e) mesmo dominando a norma culta, desobedece-a sistematicamente, não importando a situação de uso da linguagem.

2. Atente para as seguintes afirmações:
I. A indignação do amigo deve-se ao fato de que o autor, que se apresenta como um homem culto, não domina as regras de pronúncia e de ortografia.
II. Para o amigo do autor, a desobediência à norma culta é sobremaneira indesculpável quando quem a infringe é aquele que não a desconhece.
III.0 autor comunga com seu amigo a convicção de que o uso da norma culta beneficia o interlocutor que ainda não a conhece.
                   Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
               a)I, II e III                 b) I e II, somente               c) II e III, somente
                                d) I e III, somente      e) II, somente

3. No segundo parágrafo, a argumentação do autor diante da convicção do amigo quanto ao uso da linguagem pode ser assim resumida:
a) Deve-se desculpar o pecado de quem insiste em falar ou escrever de modo incorreto.
 b) Não  se deve contundir o plano da suposta correção da norma culta como plano ético das virtudes pessoais.
c) Mesmo quem desconhece a norma culta está virtualmente habilitado para um dia vir a dominá-la.
d) Quem se vale da linguagem espontânea demonstra ser mais virtuoso do que aquele que se vale  da norma culta.
e) O desconhecimento da norma culta prejudica apenas a comunicação, mas não implica falta de  caráter.

4. De acordo com o contexto, é irônica a seguinte frase:
a) (...) caindo, ainda assim, em tentação.
b) (...) as regras de pronúncia e de ortografia (...) devem ser obedecidas (...)
c) (..j pois ela desconhece a norma culta (..)
d) (...) algumas vezes, a coisa certa a se fazer é ignorar a norma
e) (...) todas as gírias e dialetos locais me interessam.

5. Considerando-se o contexto, na passagem em que a moça da padaria pergunta “DUZENTAS?”, repetindo a palavra ouvida:
a) a atendente demonstra compartilhar a mesma indignação do amigo do autor.
b) o amigo do autor encontraria uma razão para mudar de idéia quanto às suas convicções
     linguísticas.
c) o autor demonstra seu constrangimento ao ser imediatamente corrigido por uma atendente.
d) o autor faz crer que a pergunta teria sido um pedido de confirmação da forma verbal por ele
     utilizada.
e) a atendente demonstra sua satisfação em reconhecer o esforço do autor em se valer de uma  linguagem espontânea.